
Call for Papers [PT]
A SOFIME – Sociedade de Filosofía Medieval, conjuntamente com o PRAXIS – Centro de Filosofia, Política e Cultura da Universidade da Beira Interior, vai organizar, nos dias 7, 8 e 9 de setembro de 2023, na UBI (Covilhã, Portugal), o seu Colóquio Anual, subordinado ao tema genérico De Imagine.
Há muitas razões para revisitar positivamente a Idade Média partindo do tema da Imagem. Nela, como noutras épocas, aliás, a relação entre o visível e o invisível, entre o que se pode ou não pode figurar, é uma questão cultural, religiosa, teológica, antropológica e filosófica de primeira grandeza, como tantas obras de arte sobre este período mostram (filmes, literatura, música, etc.).
Para dar alguns exemplos, como não referir desde logo a concepção bíblica do homo imago Dei, presente na antropologia de todos os autores medievais? Ou, por outro lado, e não obstante a pesada afirmação de Platão de que “as imagens são a destruição da inteligência” (Rep. X, 595 b), como deixar de referir a noção neoplatónica de hierarquia, cristianizada pelo autor do Corpus Areopagiticum, que tantas consequências teve quer na mimese eclesiológica quer na imagética teológico-política medieval? E como não recordar que o Império Romano do Oriente, depois do Imperador Leão III (acusado de “pensar como um sarraceno”), por volta de 725, mandar “retirar o ícone do Senhor que estava em cima da grande Porta de Bronze”, em Constantinopla, passou por um século e meio de ferro e fogo, em razão da guerra feroz entre iconoclastas e iconódulos? E se, em 843, se deu o “Triunfo da Ortodoxia” e da “teologia do ícone”, isso não resolveu de uma vez para sempre todos os problemas à volta da imagem sagrada. A questão, aliás, não deixou de estar presente também no Ocidente franco, nos famosos Libri Carolini, de finais do séc. VIII, contra o Segundo Concílio de Niceia (787), não obstante na corte de Carlos Magno ser inteiramente favorável ao brilho das imagens. Distintas tensões entre visível e invisível podem rastrear-se também na numismática imperial e em outras representações, ao longo de séculos. Podemos e devemos referir a forte oposição entre a escola cisterciense de São Bernardo, austera e desnuda, e a escola cluniacense ou a do Abade Suger (1081-1151), reconstrutor da Abadia de Saint Denis. A metafísica da luz que aí emerge – com marcas platónicas, neoplatónicas… — culminará, no séc. seguinte, no gótico esplendoroso da Sainte-Chapelle. De um prófugo de Cister temos, igualmente, um dos maiores exemplos medievais de “teologia e de exegese visuais”: o Liber Figurarum de Joaquim de Fiore (1135- 1302). Mas as Iluminuras e a ideia de ‘Iluminação’ como tal fulguram em outras obras famosas: The Book of Kells, The Rothschild Prayer Book, etc., e entram cada vez mais nas canções trovadorescas patrocinadas por Eleanor de Aquitânia ou de Marie de France, ou ainda nas excelsas visões de Hildegarda de Bingen. Umberto Eco dedicou muitas páginas às imagens e ao imaginário medieval, desde o bestiário, o feio e o monstruoso, até aos mais altos píncaros da beleza. A sua semiose das figuras do portal de Chartres e dos vitrais da sua imponente rosácea são alguns exemplos maiores.
O pensamento medieval não vive, pois, apenas do dogma, do conceito e da fórmula jurídica, conforme alguns caricaturam. Vive no alvoroço da imaginação simbólica, fecundada pelas cores, pelas formas e pelas figuras, roçando aqui e ali a heresia e o burlesco. A Escola Franciscana será particularmente tocada pelo simbolismo da luz e do mundo sensível de que o Presépio é a imagem pedagógica por excelência. Também na recepção da filosofia de Aristóteles (“Imitar é congénito no homem”, Poética, 1448 b), a imaginação passa a ter cada vez mais importância no processo de conhecimento, mormente a representação visual na pedagogia científica. E nesta muito breve pincelada (que tantas coisas não menciona, v.g., a ambivalência de Santo Agostinho a este respeito) podemos e devemos referir-nos ainda ao séc. XIV, o qual, se é verdade que assiste ao renascimento de tendências lógicas refratárias ao visual, também é verdade que se inicia com esse portento de imaginação simbólica que é a Divina Comédia de Dante Alighieri. Outrossim, também a teologia do corpus mysticum não só configurou a representação dos “dois corpos do Rei” como determinou totalmente a ideia de repraesentatio tardo medieval, e inspirará ainda a imagem hobbesiana do Levitão. Fica, pois, este breve fresco apenas para vos inspirar e incitar.
Apelamos a que queira participar em mais este Colóquio Anual da SOFIME. Para tal, pedimos que nos envie a sua proposta com um título e um abstract (não mais 10 linhas) até ao dia 15 de Junho de 2023, para o email:
de.imagine.sofime.covilha.set2023@gmail.com
As línguas de trabalho aceites no Colóquio são o português, espanhol, francês, inglês e italiano. Em breve, daremos mais indicações de ordem logística (sobre viagens, hotéis para ficar, informações sobre a região, etc.) ou outras. Também me podem pedir a mim, José M. S. Rosa, quaisquer outras informações de que, entretanto, precisarem. As comunicações serão publicadas em livro.
Call for Papers [ES]
La SOFIME – Sociedade de Filosofía Medieval, conjuntamente con PRAXIS – Centro de Filosofia, Política e Cultura de la Universidade da Beira Interior, organizará, los dias 7, 8 y 9 de septiembre de 2023, en la UBI (Covilhã, Portugal), su Colóquio Anual, dedicado al tema genérico De Imagine.
Hay muchas razones para revisitar positivamente la Edad Media a partir del tema de la Imagen. En ella, como en otras épocas, la relación entre lo visible y lo invisible, entre lo que se puede o no representar, es una cuestión cultural, religiosa, teológica, antropológica y filosófica de primer orden, como demuestran tantas obras de arte sobre este periodo (películas, literatura, música, etc.).
Por poner algunos ejemplos: ¿cómo no mencionar la concepción bíblica del homo imago Dei, presente en la antropología de todos los autores medievales? O, por otra parte y a pesar de la pesada afirmación de Platón de que “las imágenes son la destrucción de la inteligência” (Rep. X, 595 b), ¿cómo no mencionar la noción neoplatónica de jerarquía, cristianizada por el autor del Corpus Areopagiticum, que tantas consecuencias tuvo tanto en la mímesis eclesiológica como en el imaginario teológico-político medieval? ¿Y cómo olvidar que el Imperio Romano de Oriente, después de que el emperador León III (acusado de “pensar como un sarraceno”), ordenase en ca. 725 “retirar el icono del Señor que estaba en lo alto de la gran Puerta de Bronce” en Constantinopla ‒que durante un siglo y medio provocó una encarnizada guerra entre iconoclastas e iconódulos? Y si en 843 se produjo el “Triunfo de la Ortodoxia” y de la “teología del icono”, ello no resolvió de una vez todos los problemas en torno a la imagen sagrada. La cuestión también estaba presente en el Occidente franco en los famosos Libri Carolini de finales del siglo VIII, contra el II Concilio de Nicea (787), a pesar de que la corte de Carlomagno era totalmente favorable al resplandor de las muchas imágenes. También en la numismática imperial y en otras representaciones a lo largo de los siglos se pueden rastrear distintas tensiones entre lo visible y lo invisible. Podemos y debemos mencionar la fuerte oposición entre la escuela cisterciense de San Bernardo, austera y desnuda, y la escuela cluniacense o la del abad Suger (1081-1151), reconstructor de la abadía de Saint Denis. La metafísica de la luz que allí surgió ‒con signos platónicos y neoplatónicos‒ culminaría, en el siglo siguiente, en el esplendoroso gótico de la Sainte-Chapelle. De un fugitivo cisterciense tenemos también uno de los mayores ejemplos medievales de “teología y exégesis visual”: el Liber Figurarum de Joaquín de Fiore (1135-1202). Pero las Iluminaturas y la idea de “Ilustración” como tal brillan en otras obras famosas: El Libro de Kells, El Libro de Oraciones de Rothschild, etc., y entran cada vez más en las canciones trovadorescas patrocinadas por Leonor de Aquitania o Marie de France, o en las visiones extáticas de Hildegarda de Bingen. Umberto Eco ha dedicado muchas páginas a las imágenes e imaginería medievales, desde el bestiario, lo feo y lo monstruoso, hasta las más altas cimas de la belleza. Su semiótica de las figuras del portal de Chartres y de las vidrieras de su imponente rosetón son algunos de los principales ejemplos.
El pensamiento medieval no vive, pues, sólo del dogma, del concepto y de la fórmula jurídica, como algunos lo caricaturizan. Vive en el bullicio de la imaginación simbólica, fecundada por los colores, las formas y las figuras, tocando aquí y allá la herejía y lo burlesco. La escuela franciscana se sentirá particularmente conmovida por el simbolismo de la luz y del mundo sensible del que el Pesebre es la imagen pedagógica por excelencia. También en la recepción de la filosofía de Aristóteles (“La imitación es congénita en el hombre”, Poética, 1448 b), la imaginación adquiere cada vez más importancia en el proceso del conocimiento, especialmente la representación visual en la pedagogía científica. Y en esta brevísima pincelada (que no menciona muchas cosas, por ejemplo la ambivalencia de San Agustín al respecto) podemos y debemos remitirnos al siglo XIV que, si bien es cierto que asiste al renacimiento de tendencias lógicas refractarias a lo visual, también es cierto que se inicia con ese portento de imaginación simbólica que es la Divina Comedia de Dante Alighieri. Además, la teología del corpus mysticum no sólo configuró la representación de los “dos cuerpos del Rey”, sino que determinó la idea de la repraesentatio bajomedieval, e incluso inspirará después la imagen hobbesiana del Leviatán. Este breve fresco sólo pretende inspirarle y animarle.
Le invitamos a participar en este Coloquio Anual de SOFIME. Para ello, le pedimos que nos envíen sus propuestas con un título y un resumen (no más de 10 líneas) antes del 15 de Junio de 2023, al correo electrónico:
de.imagine.sofime.covilha.set2023@gmail.com
Las lenguas de trabajo aceptadas en el Coloquio son el portugués, el español, el francés, el inglés y el italiano. En breve, enviaremos más información logística y de otro tipo (cómo viajar hasta Covilhã, hoteles donde alojarse, información sobre la región, etc.). También pueden dirigirse directamente a José M. S. Rosa, para solicitar cualquier otra información que necesiten. Se prevé publicar los textos en un libro.